domingo, julho 02, 2006

A experiência sobre a alienação do mundo, como Hannah Arendt observou, vem de séculos anteriores. O começo dos três eventos de ruptura, somado ao capitalismo foram, segundo ela:
1) As grandes navegações. Descobertas do novo mundo; Expansão do mundo. Isso trouxe para nós a noção de encolhimento do mundo. A sensação de perda do contato daquilo que era familiar, você que antes acreditava possuir um lugar, um referente, algo daquilo que é seu, acaba perdendo essa sensação diante da possibilidade de infinitude.
2)Reforma Protestante. Com a reforma protestante e a expropriação das leis da Igreja, tem-se a expropriação das terras daqueles que trabalham nela, consequentemente a perda da terra, vem a perda da pátria.
3) Telescópio. Com a invenção do telescópio, ocorre a mudança de referência heliocentrismo para geocentrismo; Com isso, a negação das verdades nascidas a partir dos sentidos; Os seus sentidos te enganam; O problema da certeza da experiência sensorial. Kepler e Copérnico colocam em dúvida a noção de um universo finito e geocêntrico; Os eventos estão sujeitos a leis universais. Provocando o desespero, niilismo, dúvidas.
As consequências da perda de um lugar no mundo, perda do lar e perda de um referencial baseado nas suas sensações são: A destruição da idéia de finitude; A ciência passa a ser a estrutura da mente; Redução da experiência sensorial a símbolos e abstrações; Desamor pelo mundo.
O último refúgio que sobra é a sua mente, aliado a isso a potencialização do indivíduo como ser no mundo; Surgimento de uma sociedade narcísica.
E o amor? O que ele faz diante disso tudo? O amor arranca e dissolve sua individualidade. O sentimento de insegurança que ele inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos. O amor nasce sempre a partir do nada, da escuridão, dilui o seu passado e o seu futuro. Em todo o amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro. É isso que faz o amor ser um capricho do destino, você pode ter certeza do que você sente, do que você quer, mas jamais terá a certeza no outro.
"Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama inseparável".
Mas não adianta teorizar sobre o que é o amor. Ele é uma experiência privada e necessita de total silêncio para que possa ser compreendido em sua plenitude.